Chamada de Trabalhos | Constelações do Sensível: Aiesthesis, Encontros e Fricções nas Culturas Visuais (Nº 17) | De 23 de setembro a 5 de dezembro de 2025

2025-09-23

Editoras Temáticas: Patricia Posch (Universidade do Minho, Portugal/Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Brasil), Alessandra Simões Paiva (Universidade Federal do Sul da Bahia, Brasil/Associação Brasileira de Críticos de Arte, Brasil) e Rosa Cabecinhas (Universidade do Minho, Portugal)

Vivemos um momento em que a produção e a circulação de imagens entrelaçam-se com múltiplas formas de perceção, experiência sensível e relações sociais. A partir do conceito de aiesthesis de Walter Mignolo, compreendemos que a sensibilidade não se limita à experiência visual, mas se inscreve em contextos históricos, culturais e políticos específicos, envolvendo corpo, memória, afetos e práticas comunitárias. Olhar, sentir e perceber não são atividades neutras, mas modos de agir e responder a regimes de poder, constituindo-se como ferramentas de existência, resistência e reconfiguração epistemológica.

Essa abertura a novas maneiras de produzir e sentir as visualidades tem implicado repensar o papel da imagem e do olhar na construção de sentidos, bem como relações de poder social e cultural que figuram como pano de fundo, a partir de uma proposta de estética insurgente que valoriza a hibridez linguística, espiritual e corporal como forma de resistência sensível (Anzaldúa, 1987). Contribuem nesse sentido propostas de descentralização do sensível, como o conceito de ch’ixi de Silvia Rivera Cusicanqui (2010), que indica lógicas sensíveis que resistem à homogeneização ocidental e evidenciam uma estética da diferença sem síntese conciliadora, e as reflexões sobre o tempo espiralar de Leda Martins (2021), que centralizam o corpo, a memória e a ancestralidade como reconfiguradores da percepção estética.

Fundamentalmente, investigar e produzir visualidades na contemporaneidade passa a exigir não somente atenção ao que se vê, mas também à maneira como se sente, se participa e se cocria o mundo coletivamente. Lembra-nos Jacques Rancière (2000), em Le Partage du Sensible (A Partilha do Sensível), a necessidade de termos um olhar cuidadoso para os esquemas de distribuição do visível e a experiência estética, ambos intrinsecamente políticos e determinantes e quem tem voz e quem pode participar da esfera pública. Essa sensibilidade incorpora uma dimensão poética e ética, reconhecendo que perceber e criar imagens envolve simultaneamente experiências afetivas, éticas e estéticas.  

Esse novo olhar para as imagens e as visualidades (demorado, atento e sensível) nos convida a refletir sobre como as práticas no campo das culturas visuais — dentre as quais as artes visuais, os média e as práticas curatoriais — reconfiguram ecologias do sentir  e podem atuar como instrumentos de existência, resistência, insurgência e/ou reconfiguração epistemológica, desafiando normas sociais instituídas, bem como promovendo insurgências micropolíticas (Rolnik, 2018) e expandindo a compreensão do que é vivencial e compartilhável visualmente como sensível.

É para essas diversas manifestações que este número da Vista se dedica. Com o objetivo de mapear e incentivar investigações que expandam os limites da cultura visual, incorporando experiências sensíveis que vão além do olhar, promovendo diálogos entre estética, política e prática social, propomos explorar a importância de estar abertas a novas maneiras de produzir e sentir visualidades. Tomando como fio condutor o conceito de aiesthesis proposto por Walter Mignolo (2010, 2019), convidamos ao envio de contribuições que explorem dimensões estéticas, culturais, políticas e/ou epistemológicas em manifestações visuais, visamos reunir contribuições que investiguem formas de apreender e criar imagens que desafiem paradigmas, ampliem os modos de ver (Berger et al., 1972) e reconfigurem o espaço visível-sensível. A dimensão prática dessa reflexão poderá estar manifesta, por exemplo, em projetos, performances, exposições, ativismos e redes digitais que tensionam a relação entre visibilidade, poder e ética, promovendo encontros e fricções entre diferentes epistemologias e modos de ver e criar visualidades.

Encorajamos submissões na forma de artigos, ensaios visuais, estudos de caso, entrevistas ou resenhas de livros que utilizem ou examinem criticamente práticas contemporâneas das artes visuais que proponham novas poéticas e ecologias visuais. São bem-vindas submissões das diversas áreas do conhecimento, incluindo (mas não se limitando a) trabalhos que abordem os seguintes tópicos:

  • Explorações teóricas e práticas do conceito de aiesthesis;
  • Práticas visuais decoloniais, contra-arquivos e restituição de memórias;
  • Artes visuais contemporâneas como modos de produção de sensibilidade e resistência;
  • Estéticas do ativismo e da performance visual, digital ou mediada por média;
  • Políticas da visibilidade, imagens insurgentes e modos de resistência visual;
  • Produção visual de grupos marginalizados (latino-americanas, indígenas, afrodescendentes entre outros);
  • Diferentes modos de produção de sensibilidade;
  • Relações entre imagem, sensibilidade e epistemologias alternativas;
  • Hibridismos textuais e visuais, poéticas do encontro e da fricção;
  • Educação visual, curadoria comunitária e práticas participativas;
  • Tecnologias contemporâneas e suas implicações estéticas, éticas e políticas na produção de imagens;
  • Cocriação e processos de ressignificação de imagens e monumentos;
  • Releituras sensíveis de patrimônio material e imaterial.

DATAS IMPORTANTES

Período de submissão de propostas (textos integrais): de 23 de setembro a 5 de dezembro de 2025

Período de publicação: edição contínua (janeiro a junho de 2026)

LÍNGUA

Os artigos podem ser submetidos em inglês ou português. Os artigos selecionados para publicação serão traduzidos para português ou inglês, respetivamente, sendo publicados integralmente em ambos os idiomas.

EDIÇÃO E SUBMISSÃO

A Vista é uma revista académica de acesso livre, funcionando de acordo com exigentes padrões de revisão por pares, operando num processo de dupla revisão cega. Cada trabalho submetido será enviado a dois revisores previamente convidados a avaliá-lo, de acordo com a qualidade académica, originalidade e relevância para os objetivos e âmbito da revista.

Os originais deverão ser submetidos através do website da revista (https://www.revistavista.pt). Se está a aceder à Vista pela primeira vez, deve registar-se para poder submeter o seu artigo (indicações para se registar aqui).

O guia para os autores pode ser consultado aqui.

Para mais informações, contactar: vista@ics.uminho.pt

Referências

Anzaldúa, G. (1987). Borderlands/la frontera: The new mestiza. Aunt Lute Books.

Berger, J., Blomberg, S., Fox, C., Dibb, M., & Hollis, R. (1972). Ways of seeing. Penguin Books.

Cusicanqui, S. (2010). Ch’ixinakax utxiwa: Una reflexión sobre prácticas y discursos descolonizadores. Tinta Limón.

Martins, L. M. (2021). Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela. Editora Cobogó.

Mignolo, W. (2010). Aiesthesis decolonial. Calle14, 4(4), 10–15.

Mignolo, W. (2019). Reconstitución epistémica/estética: La aesthesis decolonial una década después. Calle14, 14(25), 14–32.

Rancière, J. (2000). Le partage du sensible. La Fabrique Éditions.

Rolnik, S. (2018). Esferas da insurreição. N-1 Edições.