Aspetos da afirmação da cultura visual em Portugal: o papel de António Ferro. Da Ilustração Portuguesa ao arquivo fotográfico do SPN
DOI:
https://doi.org/10.21814/vista.2994Palavras-chave:
teatro, cultura visual, imprensa ilustrada, propagandaResumo
Durante a década de 1920 e o início da de 1930 a cultura visual portuguesa sofreu uma profunda transformação, percetível nos magazines ilustrados de grande circulação. Um dos primeiros traços dessa mudança terá sido o da renovação da Ilustração Portuguesa, em 1921, com um novo diretor, António Ferro, apoiado pelo jornalista e consultor Leitão de Barros. Traziam um programa visual modernizado que viria a ter continuidade noutros magazines ilustrados e em particular, desde 1927, no Notícias Ilustrado, com um figurino visual cosmopolita, em linha com os magazines ilustrados internacionais.
Foi Ferro que, em Portugal, se aventurou primeiro num género de jornalismo com recurso exaustivo à imagem, quer com imagens sugeridas pela sua escrita quer com o uso da fotografia, muitas vezes só com legenda, como sucedeu frequentemente no Notícias Ilustrado.
Porventura o ponto mais alto do jornalismo “visual” de António Ferro terá sido a longa entrevista a Salazar, publicada no Diário de Notícias em 1932. O virtuosismo com que António Ferro soube ligar a escrita e a fotografia na construção de uma imagem para a figura praticamente “invisível” de Salazar, como sugeriu José Gil, ficou bem demonstrado, sendo inculcada num imaginário coletivo que, apesar de todas as mudanças políticas e dos anos volvidos, ainda subsiste, prova da força de uma propaganda visual assaz eficaz. Seria Ferro, já como diretor do Secretariado de Propaganda Nacional, em 1933 e, na sequência lógica desse percurso, a criar logo um arquivo fotográfico nesse departamento estatal, serviço que daria apoio à máquina de divulgação visual do regime até ao seu declínio.
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