As Leis da Captura da Atenção. Reflexões em Torno do Vídeo nas Plataformas Digitais

Autores

  • Pedro Rodrigues Costa Centro de Investigação em Comunicações Aplicadas, Cultura e Novas Tecnologias, Faculdade de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação, Universidade Lusófona, Porto, Portugal https://orcid.org/0000-0002-1223-6462
  • Moisés de Lemos Martins Faculdade de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação, Universidade Lusófona, Porto, Portugal https://orcid.org/0000-0003-3072-2904

DOI:

https://doi.org/10.21814/vista.4512

Palavras-chave:

vídeo, leis, captura da atenção, plataformas digitais

Resumo

A imagem é um dos suportes dominantes na comunicação contemporânea (Martins, 2021, p. 185). A convergência cultural atual faz-se, sobretudo, em torno de imagens digitais (Jenkins, 2006/2009). Nesta premissa, o vídeo é um dos tipos que mais destaque alcançam na era da imagem e dos ecrãs (Costa, 2012; Loureiro, 2011; Martins, 2011).

Diferentes empresas de comunicação digital, através de diferentes plataformas, utilizam arquiteturas e algoritmos com diferentes técnicas e métodos nos modos como usam a imagem para comunicar e capturar a atenção. O meio digital é pensado tendo como elemento central imagens para comunicar e leis algorítmicas para reter e fidelizar os cidadãos (Lanier, 2010/2010, 2018/2018).

Teóricos da economia da atenção entendem que as empresas que gerem as grandes plataformas digitais têm um grande objetivo: capturar a atenção das massas de modo a criar fidelização e retenção nos consumidores/utilizadores (Martens, 2016; Srnicek, 2017). A economia da atenção é um dos seus principais setores, tendo como um dos negócios primordiais a ecranovisão (Costa, 2014). O pagamento do sujeito às empresas que gerem as plataformas digitais é feito por intermédio de um constante dar visualizações (Costa, 2020b), de uma persistente telepresença, de uma frenética partilha de conteúdos, de uma utilização corrente dos inúmeros serviços e ecossistemas digitais. É a soma de muitos a ver, a tele-estar, a tele-partilhar e a tele-usar que permite dinamizar a economia da atenção.

As grandes empresas digitais lutam pelas fatias maiores dessa economia. Os que mais utilizadores fidelizam e retêm são os que mais lucram. A estratégia maior reside nos métodos e nas técnicas de captura da atenção utilizados. Essa cria “leis”, quer dizer, regularidades e padrões que se movimentam entre diferentes empresas e diferentes dinâmicas sociotécnicas. O vídeo, enquanto método e técnica de captura da atenção, utiliza “leis” e trilhos, contribuindo para posteriores processos sociais de uso, influência, manipulação, imitação, propagação, socialização e individuação. Neste artigo, tentamos dar conta de algumas regularidades e padrões gerais utilizados no vídeo para captura da atenção das massas.

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Biografias Autor

Pedro Rodrigues Costa, Centro de Investigação em Comunicações Aplicadas, Cultura e Novas Tecnologias, Faculdade de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação, Universidade Lusófona, Porto, Portugal

Pedro Rodrigues Costa é doutor em ciências da comunicação, com especialização em sociologia da informação e da comunicação. É licenciado em sociologia e mestre em sociologia das organizações e do trabalho. É docente na Universidade Lusófona e docente convidado na Escola Superior de Negócios Atlântico, em Gaia. É vice-diretor do Departamento de Comunicação e Arte, na Faculdade de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação da Universidade Lusófona, e gestor da qualidade dessa mesma faculdade, no Centro Universitário do Porto.

É investigador integrado no Centro de Investigação em Comunicação Aplicada, Cultura e Novas Tecnologias, sob o lema “as leis da captura da atenção nas plataformas digitais”. É também vice-coordenador do GT Comunicação Intercultural, na Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, e é cocoordenador do projeto Fundação para a Ciência e a Tecnologia: Engage for SDG. Foi cocoordenador, sendo atualmente membro, do Barómetro da Qualidade de Informação.

Moisés de Lemos Martins, Faculdade de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação, Universidade Lusófona, Porto, Portugal

Moisés de Lemos Martins é doutor em ciências sociais, na especialidade de sociologia, pela Universidade de Estrasburgo. É professor jubilado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. É diretor da Faculdade de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação, na Universidade Lusófona. Foi professor catedrático na Universidade do Minho, no departamento de ciências da comunicação. Foi diretor do Instituto de Ciências Sociais (de 1996 a 2000, e de 2004 a 2010), diretor e fundador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, e diretor e fundador do Museu Virtual da Lusofonia, na Universidade do Minho. Foi diretor das revistas Comunicação e Sociedade e Revista Lusófona de Estudos Culturais. Tem publicado no âmbito da sociologia da cultura, semiótica social, sociologia da comunicação, semiótica visual, comunicação intercultural, estudos lusófonos e sociologia da ciência.

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Publicado

2023-04-13

Como Citar

Rodrigues Costa, P., & de Lemos Martins, M. (2023). As Leis da Captura da Atenção. Reflexões em Torno do Vídeo nas Plataformas Digitais . Vista, (11), e023002. https://doi.org/10.21814/vista.4512

Edição

Secção

Artigos Temáticos