Reviravoltas Decoloniais do Manto Tupinambá: Três Artistas Mulheres e Seus Trabalhos em Torno do Artefato que Se Tornou Ícone da Identidade Brasileira
DOI:
https://doi.org/10.21814/vista.5484Palavras-chave:
mulheres artistas brasileiras, manto tupinambá, arte indígena, decolonialidade, estudos decoloniaisResumo
Este trabalho analisa as apropriações artísticas e simbólicas em torno do manto indígena tupinambá por meio do trabalho de três artistas brasileiras: Glicéria Tupinambá, Lívia Melzi e Lygia Pape. A partir da análise visual de suas poéticas, e estabelecendo uma reflexão entre estas criações e a dimensão iconográfica do artefato em determinados marcos históricos, pretendemos entender como as obras destas artistas estão entrelaçadas à lógica da arte contemporânea, levando em conta a contribuição que os estudos interdisciplinares podem ter para a compreensão deste momento em que as artes vêm sendo atravessadas por uma mudança de paradigma associada ao movimento decolonial, o que tem se reverberado na potencialização da natureza política e ativista do campo estético. Para além do debate sobre a repatriação de objetos de interesse etnográfico, apresentamos um estudo de caso envolvendo o percurso destas três artistas, cujas poéticas são analisadas a partir da metodologia da crítica da arte e de uma base teórica multidisciplinar, englobando autores da teoria e da história da arte, além dos estudos culturais e decoloniais. Não há dúvidas que a devolução do manto reacendeu de forma bastante expressiva os debates sobre a devolução de artefatos expropriados durante o período colonial brasileiro. Porém, nossa intenção é apontar para a importância do resgate das técnicas e dos gestos implementados pelas artistas, que permitem que novos mantos sejam realizados e reapropriados simbolicamente, fato congruente com a reflexão acerca do fazer político nos campos da estética e da museologia.
Downloads
Referências
Artista brasileira reflete olhar decolonial sobre mantos tupinambás em Paris. (2022, 21 de outubro). UOL. https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2022/10/21/artista-brasileira-reflete-olhar-decolonial-sobre-mantos-tupinambas-em-paris.htm?cmpid=copiaecola
Ballestrin, L. M. (2017). Modernidade/colonialidade sem “imperialidade”? O elo perdido do giro decolonial. Revista de Ciências Sociais, 60(2), 505–540. https://doi.org/10.1590/001152582017127
Basbaum, R. (2013). Manual do artista-etc. Beco do Azougue.
Borea, G. (2021). Configuring the new Lima art scene: An anthropological analysis of contemporary art in Latin America. Routledge.
Braga, A. L., Streva, J. M., & Zalis, L. Z. (2022, 10 de novembro). Especular pactos sobre o comum. La Escuela. https://laescuela.art/es/campus/library/mappings/especular-pactos-sobre-o-comum-ana-luiza-braga-juliana-streva-e-lior-zisman-zalis-pt
Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. (2023, 29 de novembro). Editores da Enciclopédia. https://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento217210/brasil-500-mostra-do-redescobrimento
Brett, G. (2000). A lógica da téia in Gávea de Tocaia/Lygia Pape. Cosac & Naify Edições.
Caffé, J., Gontijo, J., Tugny, A., & Tupinambá, G. (2023). As muitas voltas dos mantos tupinambás. In B. Belisário, E. Rosse, & R. Tugny (Eds.), Poéticas ameríndias: Memórias territórios (pp. 257–288). Editora Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais.
Canclini, N. G. (2015). Culturas híbridas. Estratégias para entrar e sair da modernidade. Edusp.
Castellano, C. G. (2021). Art activism for an anticolonial future. State University of New York Press.
Césaire, A. (2020). Discurso sobre o colonialismo (C. Willer, Trad.). Veneta. (Trabalho original publicado em 1950)
Chiarelli, T. (2023). O manto tupinambá como matéria e símbolo – Algumas anotações. Arte&Crítica, (66), 64–83.
Cocchiarale, F. (1987). Abstracionismo geométrico e informal: A vanguarda brasileira nos anos cinquenta. Funarte.
Didi-Huberman, G. (2008). Ante el tempo. Historia del arte y anacronismo de las imagines (A. Oviedo, Trad.). Adriana Hidalgo Editora. (Trabalho original publicado em 2000)
Dussel, E. (2003). Transmodernidad e interculturalidad: Interpretación desde la filosofía de la liberación. Erasmus Revista Para el Diálogo Intercultural, 5(1–2), 1–26.
Esbell, J. (2018, 22 de janeiro). Arte indígena contemporânea e o grande mundo. Revista Select. https://select.art.br/arte-indigena-contemporanea-e-o-grande-mundo/
Escobar, A. (2020). Pluriversal politics: The real and the possible. Duke University Press.
Fanon, F. (2021). Black skin, white masks. Penguin Classics.
Foster, H. (2014). O retorno do real: A vanguarda no final do século XX (C. Euvaldo, Trad.). Cosac Naify. (Trabalho original publicado em 1996)
Fuentes, M. A. (2019). Performance constellations: Networks of protest and activism in Latin America. University of Michigan Press.
Gilroy, P. (1993). Small acts: Thoughts on the politics of Black cultures. Serpents Tail.
Hall, S. (1997). Representation: Cultural representations and signifying practices. SAGE.
Hall, S. (2001). Foucault: Power knowledge and discourse. In M. Wetherell, S. Taylor, & S. J. Yates (Eds.), Discourse theory and practice: A reader (pp. 72–81). SAGE.
Lagrou, E. (2013). Arte indígena no Brasil: Agência, alteridade e relação. C/Arte.
Lygia Pape. (s.d.). Manto tupinambá. https://lygiapape.com/tag/manto-tupinamba/
Machado, V. R. (2008). Lygia Pape – Espaços de ruptura [Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo]. Biblioteca Digital USP. https://doi.org/10.11606/D.18.2008.tde-19082008-135305
Mattar, D. (2003). Lygia Pape/Coleção perfis do Rio. Relume Dumará.
Mbembe, A. (2018, 5 de outubro). À propos de la restitution des artefacts africains conservés dans les musées d’occident. Analyse Opinion Critique. https://aoc.media/analyse/2018/10/05/a-propos-de-restitution-artefacts-africains-conserves-musees-doccident/
Mercer, K. (2012). Art history and the dialogics of diaspora. Small Axe, 16(2), 213–227. https://doi.org/10.1215/07990537-1665632
Mignolo, W. (2010). Aiesthesis decolonial. Calle 14, 4(4), 10–25.
Mombaça, J. (2021) Não vão nos matar agora. Cobogó.
Oliveira, E. J. (2022). A fábrica do selvagem e o choque das imaginações. Uma leitura pós-etnográfica da obra de Denilson Baniwa. Quaderni Culturali, 4, 41–51. https://doi.org/10.36253/qciila-2061
Oliveira, J. P. (2020). Os primeiros brasileiros. Arquivo Nacional-Museu Nacional.
Osorio, L. C. (2006). Lygia Pape - Experimentation and resistance. Third Text, 20(5), 571–583. https://doi.org/10.1080/09528820601010403
Paiva, A. S. (2022). A virada decolonial na arte brasileira. Mireveja.
Pape, L. (1998). Entrevista a Lúcia Carneiro e Ileana Pradilla. Nova Aguilar.
Pitman, T. (2021). Decolonising the museum: The curation of Indigenous contemporary art in Brazil. Boydell & Brewer.
Quijano, A. (2005). Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In E. Lander (Ed.), A colonialidade do saber: Eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas (pp. 118–142). CLACSO.
Rancière, J. (2004). The politics of aesthetics: The distribution of the sensible. Continuum.
Ribeiro, D. (2017). O que é lugar de fala? Letramento.
Rojas-Sotelo, M. L. (2023). The tree of abundance: On the Indigenous emergence in contemporary Latin American art. Arts, 12(4), 1–29. https://doi.org/10.3390/arts12040127
Rojas Sotelo, M. (2017). Soberanía visual en Abya Yala. In M. Rojas Sotelo, C. Díaz, E. Giraldo, C. O. Fino, & E. Flórez (Eds.), Reconocimientos a la crítica y el ensayo: Arte en Colombia (pp. 5–15). Ministerio de Cultura; Universidad de los Andes.
Roxo, E. (2021, novembro). Longe de casa: O fascínio, a dor e os equívocos em torno dos mantos tupinambás na Europa. Folha de S. Paulo. https://piaui.folha.uol.com.br/materia/longe-de-casa-2/
Roxo, E. (2023, 27 de junho). A volta do manto tupinambá: Museu Nacional da Dinamarca vai devolver para o Brasil relíquia sagrada que está na Europa desde o século XVII. Folha de S. Paulo. https://piaui.folha.uol.com.br/volta-do-manto-tupinamba/
Said, E. (2007). Orientalismo (R. Eichenberg, Trad.). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1978)
SELVAGEM ciclo de estudos sobre a vida. (2023, 1 de junho). 4 - Memórias ancestrais - O manto e o sonho - Glicéria Tupinambá [Vídeo]. YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=36HUTPYRNpE
Seta, I. (2023, 28 de junho). Raríssimo manto tupinambá que está na Dinamarca será devolvido ao Brasil; peça vai ficar no Museu Nacional. G1. https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2023/06/28/rarissimo-manto-tupinamba-que-esta-na-dinamarca-sera-devolvido-ao-brasil-peca-vai-ficar-no-museu-nacional.ghtml
Spivak, G. C. (2018). Pode o subalterno falar? (S. Almeida, M. Feitosa, & A. Feitosa, Trads.). Editora UFMG. (Trabalho original publicado em 1985)
Stewart, K. (2007). Ordinary affects. Duke University Press.
Suckaer, I. (2017). Arte indígena contemporáneo: Dignidad de la memoria y apertura de cánones. Samsara/Fonca.
Tupinambá, G. (2021). O manto é feminino. Assojaba Ikunhãwara. In J. Caffé, J. Gontijo, A. Tugny, & G. Tupinambá (Eds.), Kwá yepé turusú yuriri assobaja tupinambá: Essa é a grande volta do manto tupinambá (pp. 18–25). Conversas em Gondwana.
Walsh, C. (2009). Interculturalidad, Estado, sociedad: Luchas (de)coloniales de nuestra época. Universidad Andina Simón Bolívar/Abya-Yala.
Williams, R. (1977). Marxism and literature. Oxford University Press.
Zalis, L. Z. (2022). A vingança das imagens. In Tupi or not tupi (pp. 5–11). Galeria Ricardo Fernandes.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2024 Alessandra Simões Paiva
Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.
Os autores são titulares dos direitos de autor, concedendo à revista o direito de primeira publicação. O trabalho é licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.