Arquitetura do Desaparecimento: Autorretratos Negros e a Contravisualidade Como Estética Reparativa
DOI:
https://doi.org/10.21814/vista.6583Palavras-chave:
autorretrato, fotografia negra-periférica, estética reparativa, contravisualidade, Roger SilvaResumo
O presente artigo analisa a série de autorretratos Arquitetura do Desaparecimento, do fotógrafo brasileiro Roger Silva. As fotografias de Roger apresentam-se como expressão estética e política da contravisualidade decolonial produzida por fotógrafos negros das periferias. Através do autorretrato, o artista articula um gesto de reexistência que tensiona os regimes normativos de visibilidade, identidade e representação. Este estudo fundamenta-se na teoria decolonial (Azoulay, 2021; Fanon, 1952/2008; Maldonado-Torres, 2020), nos estudos sobre imagem (Campt, 2021), representação (Hall, 2006, 2013/2016) e estética reparativa (Best, 2016), a fim de perceber as imagens de Roger como dispositivos simbólicos de enfrentamento ao racismo e de reconstrução de subjetividades. As legendas que acompanham as fotografias são incorporadas à análise como extensões discursivas da obra visual, revelando camadas não visíveis das experiências retratadas. O artigo demonstra que o autorretrato negro contemporâneo, especialmente o desenvolvido por fotógrafos negros das periferias, constitui-se como prática artivista de produção de sentidos, fabulação e cura simbólica, criando novas gramáticas visuais que subvertem a lógica da colonialidade do ver e do saber. Acredita-se que essas imagens contribuem para o fortalecimento de uma contravisualidade que se estabelece através da linguagem da fotografia negra-periférica.
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