Cultura Visual, Violência de Gênero e Masculinidades: Entrecruzamentos e Possibilidades Pedagógicas

Autores

  • Carla Luzia de Abreu Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual, Faculdade de Artes Visuais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil https://orcid.org/0000-0003-3816-8645
  • Jocy Meneses dos Santos Junior Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual, Faculdade de Artes Visuais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil https://orcid.org/0000-0002-6292-9953

DOI:

https://doi.org/10.21814/vista.4105

Palavras-chave:

cultura visual, violência de gênero, educação, masculinidades, visualidade

Resumo

Este artigo explora as relações entre cultura visual, gênero e violência, com foco nas visualidades e em seus papéis pedagógicos. Considerando o protagonismo exercido pelos homens na prática de violências gendradas, são apresentadas algumas reflexões teóricas sobre os modos pelos quais a construção social do visual está implicada no problema, a partir de uma abordagem dos estudos da cultura visual e dos estudos de gênero. Para corroborar com as reflexões, descrevemos uma proposta pedagógica desenvolvida com duas turmas de estudantes universitários de artes visuais no segundo semestre de 2021, nas quais as pessoas participantes foram convidadas a pensar sobre a construção das aprendizagens de gênero e as violências que permeiam esse processo, tendo como dispositivo condutor das discussões a elaboração de constelações visuais. Essa estratégia metodológica foi inspirada nos estudos de Aby Warburg (2000/2010) e de Georges Didi-Huberman (2002/2013, 2011/2018) e buscou explorar o potencial inerente ao ato de confrontar imagens. A expectativa desta atividade pedagógica foi de promover deslocamentos do olhar e reposicionamentos a respeito da naturalização da ordem de gênero e das práticas violentas que ela sustenta. Durante a construção dos painéis visuais e das discussões que moveram os encontros, percebemos que os homens têm certa dificuldade em compreender ou expressar de que modo estão envolvidos no problema, enquanto as mulheres relataram experiências próximas com situações de violência. Entretanto, ainda que as condutas e a cumplicidade masculinas não tenham sido problematizadas de forma expressiva pelos homens, eles aproveitaram o espaço para relatar como a socialização masculina é marcada por violências praticadas em nome do gênero. Concluímos que o papel desempenhado pelas visualidades na reprodução ou subversão de normas e padrões pode contribuir para problematizar as redes de sentido estabelecidas socialmente em torno do gênero.

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Biografias Autor

Carla Luzia de Abreu, Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual, Faculdade de Artes Visuais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil

Carla Luzia de Abreu é professora adjunta da Faculdade de Artes Visuais, Universidade Federal de Goiás, atua nos cursos de graduação artes visuais — licenciatura e bacharelado. Carla integra o Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual e é doutora em artes visuales y educación (2014), pela Universidade de Barcelona (Espanha), em regime de cotutela (dupla certificação) com o Programa de Pós-Graduação Arte e Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás. Ela participa dos grupos de pesquisa: Cultura Visual e Educação (Universidade Federal de Goiás/ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Grupo REdArtH (Rede Internacional de Pesquisa em Educação; Universidade Federal de Goiás/ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Suas pesquisas abordam os temas: cultura visual e educação; gêneros, sexualidades e visualidades; pedagogias de resistência.

Jocy Meneses dos Santos Junior, Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual, Faculdade de Artes Visuais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil

Jocy Meneses dos Santos Junior é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual, Faculdade de Artes Visuais, Universidade Federal de Goiás. Jocy é bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás. Ele é especialista em arte, mídia e educação pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (2021) e em design gráfico pelo Instituto de Artes da Califórnia (2019). Ele é master of business administration em direção de arte pela Universidade Estácio de Sá (2019) e bacharel em design pela Universidade Federal do Maranhão (2017), com período sanduíche no Queens College da Universidade da Cidade de Nova Iorque (2015–2016).

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Publicado

2022-11-10

Como Citar

de Abreu, C. L., & dos Santos Junior, J. M. (2022). Cultura Visual, Violência de Gênero e Masculinidades: Entrecruzamentos e Possibilidades Pedagógicas . Vista, (10), e022012. https://doi.org/10.21814/vista.4105

Edição

Secção

Secção Temática. Artigos