Fotografia Como Resistência: Entre Aprisionamento e Liberdade em Kiana Hayeri
DOI:
https://doi.org/10.21814/vista.6520Palavras-chave:
Kiana Hayeri, fotografia, narrativas, relações de poderResumo
Este artigo realiza uma análise crítica de seis fotografias da artista iraniana-canadense Kiana Hayeri, cuja produção documental se concentra na representação de mulheres em contextos de vulnerabilidade sociopolítica no Afeganistão. Com foco analítico aprofundado em duas fotografias: uma retrata mulheres em situação de encarceramento, enquanto a outra mostra um grupo de mulheres enfileiradas para receber auxílio humanitário durante a pandemia de COVID-19. A partir da análise das composições visuais — incluindo enquadramento, expressão corporal, gestualidade, cenário e contexto —, bem como da contextualização dos cenários sociais, políticos e religiosos em que as imagens foram produzidas, a pesquisa propõe uma reflexão sobre as camadas simbólicas e subjetivas presentes nas fotografias. O referencial teórico fundamenta-se nos estudos de Walter Benjamin (1994), que discute a função da fotografia, e de Jean Baudrillard (1981/1991), que propõe a noção de “simulacro” e discute os limites entre representação e realidade. A partir dessas perspectivas, observa-se uma inversão paradoxal entre liberdade e aprisionamento: as mulheres encarceradas aparentam experimentar certa sensação de alívio ao se encontrarem afastadas das pressões sociais externas, enquanto as mulheres fora da prisão, embora formalmente livres, demonstram sinais de opressão e controle, derivados de estruturas sociopolíticas e religiosas que moldam suas existências. O estudo evidencia, assim, uma dicotomia nas experiências de liberdade e aprisionamento, problematizando os modos como a imagem fotográfica participa da construção de sentidos e da reprodução de normas culturais. Por meio da fotografia documental, Hayeri revela não apenas as condições materiais de vida dessas mulheres, mas também aspectos simbólicos e afetivos que desafiam as narrativas tradicionais sobre gênero e liberdade. O artigo conclui destacando o papel crítico da imagem como meio de resistência e ferramenta de interpretação das relações de poder que atravessam o cotidiano feminino em contextos marcados por desigualdades estruturais.
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