Nossos Fantasmas Estão Vindo Cobrar: Giro Decolonial na Arte Contemporânea Brasileira

Autores

  • Michelle Sales Departamento de História e Teoria da Arte, Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil/Programa de Pós-Graduação em Multimeios, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil https://orcid.org/0000-0003-1589-4003

DOI:

https://doi.org/10.21814/vista.3641

Palavras-chave:

decolonial, arte contemporânea, Brasil

Resumo

Este texto expande, aprofunda e comenta o ensaio “As Práticas Artísticas Contemporâneas no Contexto Ibero-Americano e o Pensamento Pós-Colonial e Decolonial” (Sales & Cabrera, 2020), onde comentamos a obra dos artistas Yonamine, Grada Kilomba, Jota Mombaça e Daniela Ortiz. No texto citado, trabalhamos a problemática da discussão em torno do surgimento de um campo de pensamento denominado “pós-colonial”, bem como um projeto decolonial e a maneira como se configuram no espaço ibero-americano práticas poéticas interessadas na discussão em torno do legado colonial. A partir de uma abordagem histórica, neste artigo, tentamos perceber a forma como os estudos pós-coloniais produzem influência no Brasil, assim como o giro e o pensamento decolonial que se consolida na América Latina, a fim de compreender as formas de produzir respostas do campo da arte brasileira para questões que envolvem a descolonização. Nos estudos pós-coloniais e também no projeto decolonial, a descolonização da arte está relacionada com o questionamento da matriz de pensamento eurocêntrico a partir de seus esquemas de representação de mundo racializados e subalternizados, e também está profundamente relacionada com o caráter performativo daquele ou daquela que narra. Ou seja, a descolonização da arte e do pensamento, assim como dos modos de ser e de estar no mundo não estão dissociados do aparecimento de artistas, escritores e intelectuais que disputam o direito de autorepresentação, de auto-apresentação e de criação de narrativas e imagens não coloniais ou completamente fora do imaginário e da cosmovisão euro-centrada. No texto que agora se apresenta, firmamos um interesse aprofundado no contexto brasileiro, apropriando-nos da discussão importante em torno da constituição de um campo de pensamento decolonial, analisando a obra de artistas brasileiros contemporâneos como Jota Mombaça, Juliana Notari, Michelle Mattiuzzi e Paulo Nazareth.

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Biografia Autor

Michelle Sales, Departamento de História e Teoria da Arte, Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil/Programa de Pós-Graduação em Multimeios, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil

Michelle Sales é pesquisadora, professora e curadora independente. É professora associada da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2010 até a atualidade) e do Programa de Pós-Graduação em Multimeios da Universidade Estadual de Campinas. É coordenadora da rede de pesquisa Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos, no Brasil e em Portugal, e do projeto As Práticas Artísticas Contemporâneas e o Pensamento Pós-Colonial e Decolonial. Fez um pós-doutoramento em estudos contemporâneos pela Universidade de Coimbra (2018–2020), coordenou o projeto de investigação À Margem do Cinema Português (2020), financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian. É ex-bolseira da Fundação Calouste Gulbekian, no programa Investigadores Estrangeiros (2013–2014) e colabora com o Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho (2020). Como curadora, entre outras exposições, contam-se: "Daqui Para Frente: Arte Contemporânea em Angola" (Caixa Cultural, Rio de Janeiro, 2017; Caixa Cultural, Brasília, 2018). Atua nas áreas dos estudos pós-coloniais, decoloniais e anti-coloniais, feminismo interseccional, relações étnico-raciais e gênero.

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Publicado

2021-12-27

Como Citar

Sales, M. (2021). Nossos Fantasmas Estão Vindo Cobrar: Giro Decolonial na Arte Contemporânea Brasileira. Vista, (8), e021016. https://doi.org/10.21814/vista.3641

Edição

Secção

Artigos